segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Enquanto isso, no reino encantado do fundamentalismo religioso...


Demagogia! É disso que estamos falando, e somente quem nunca freqüentou um “templo” preconceituoso ou nunca assistiu na televisão um daqueles programas que atentam contra a dignidade humana, consegue, de consciência limpa, afirmar que jamais houve preconceito contra a comunidade LGBT nesses espaços.
“Devemos amar uns aos outros”, “somos todos irmãos”, “não temos preconceito contra homossexuais”. É realmente maravilhoso ouvir frases como essas – quando elas são verdadeiras, obviamente.
Há muitas manifestações contrárias à aprovação do PLC 122/2006. O principal argumento utilizado pelos opositores é a inconstitucionalidade do projeto.Para isso, alegam que com a aprovação do PLC a liberdade de expressão utilizada pelas religiões será cerceada (acredito que aqui é necessário uma pausa para contarmos até dez e respirarmos).
Recuperada a calma, rebatemos o exposto pelos fundamentalistas utilizando da mesma moeda. Portanto, senhoras e senhores, colocamos em pauta a inconstitucionalidade da igreja nessa discussão. Afinal, o Estado é laico, não possui ligação alguma com qualquer entidade religiosa, e definitivamente, alegar motivos religiosos para fomentar idéias negativas sobre o projeto é, no mínimo, falta de conhecimento da estrutura organizacional de nosso país.
São inúmeras as pesquisas baseadas em dados reais e não na bíblia – permitam-me utilizar aqui da minha liberdade de não ter crença religiosa - que demonstram explicitamente o porquê da necessidade de aprovação do PLC 122, tendo em vista que o grau de intolerância com lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais é – e sem medo de repetir palavras e empobrecer o texto – intolerável. Somente no Paraná 19 assassinatos em um ano; alguém com pleno controle de suas faculdades mentais não teme saber a estimativa nacional?
Contudo, povo brasileiro, não temamos, pois no reino encantado dos fundamentalistas (vide o site www.providaanapolis.org.br) ninguém é contra os homossexuais, mas sim contra a prática homossexual (alguém me explica por favor?).

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Soneto da primeira flecha do Cupido.


No Museu, coquetel, curiosidade
Olhos vêem somente o exterior
A resposta aos dezoito de idade
Ou somente o começo do horror?

Apaixona-se, distorce a verdade
Engana-se com o direito a louvor
Comete pecados da ansiedade
E suplica com os gritos de pavor

Não permita, oh deus tão poderoso
Nesse mundo um destino tão cruel
Lhe pede o coração que nessa vida

Embriaga-se na forte bebida
Chora sempre desejo odioso

Por amargar com o gosto do fel

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Azucrinando.


Rosangela Justino, mulher, psicóloga e curandeira. Alguns curam diabete, pedras nos rins, ou ainda aqueles outros que foram condenados às famosas “ites”, sinusite, rinite e bronquite, entretanto, coitados, doentes, flagelados mesmo, são os indivíduos que sofrem de homossexualismo.
É, meus caros, para essa espetacular “pajé das tribos urbanas”, o sufixo “ismo”, esse mesmo que conota doença, não caiu. Homossexualidade? Sufixo “dade”? Questão de gênero? 17 de maio de 1990? Dia em que a Organização Mundial da Saúde retirou a homossexualidade do seu quadro de doenças mentais? Para nossa querida profissional, não valeu de nada, é balela. Talvez porque foi a saúde e não a psicologia quem retirou. Cá entre nós, acho que ela não sabe que o psicológico faz parte da saúde, tadinha.
Ela cura homossexuais, recebe dinheiro de pais e mães desesperados e cura crianças indefesas. Conselhos regionais e federais de psicologia não existem para a “toda poderosa”. Ela deve fazer também surdo ouvir, cego ver, coxo andar. Deveria abrir uma igreja.
A Unesco realizou uma pesquisa em 14 capitais brasileiras, 241 instituições de ensino, mais de 16 mil alunos entrevistados e encontrou muitas “rosangelas justinos” por aí. 40 por cento dos meninos entrevistados detestariam ter colegas homossexuais em sua sala de aula, alguns admitiram jogar ovos em alunos afeminados, bater para que eles parem de ir à escola. 35 por cento dos pais têm medo de que seus filhos convivam com pessoas de orientação não heterossexual. Enfim, mais de 100 homossexuais são assassinados por ano em nosso país pelo simples fato de serem diferente. Até onde sei, ser diferente não é ser errado, é ser apenas diferente, afinal, se diferente fosse errado, diferente se chamaria errado e não diferente. Lógico, não? Não queria fugir da nossa realidade, mas preciso dizer que um jovem gay, norte americano, segundo o Departamento de Educação de Massachusetts, ouve comentários anti-gay cerca de 25 vezes ao dia, mais de um por hora, coisa pouca, né?
Senhoras e Senhores, surpreendam-se, pois nossa querida psicóloga acima citada, nunca soube de nada disso. A resolução do Conselho Federal de Psicologia, lá em 1999, no artigo 1º, parágrafo único: “Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades”, foi por ela, ignorada.
Desta maneira, eu me pergunto: se eu, embriagado, bato meu carro e mato alguém, sofrerei a pena por esse crime, certo? Exceto alguns deputados por aí dirigindo a 190km/h...mas esse já é assunto para outro artigo. A Rô, querida, foi julgada pelo Conselho responsável, contudo, foi necessário que mais de 200 organizações que atuam na defesa dos direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, entrassem com ações solicitando uma atitude por parte das autoridades, caso contrário, nem o julgamento sairia. A pena imputada a ela foi uma repreensão pública. Mais ou menos como aquela que nossas mães nos dão na frente dos coleguinhas. E vocês, ainda acham que eu discordo de Rosangela? Pois estão totalmente enganados. Depois disso tudo, quero mais é enfrentar a fila do INSS e me “encostar”, tendo em vista que sofro de uma maligna e poderosa doença.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Apenas mais um dramalhão fantástico e mexicano.


Há em nós, seres humanos, uma negligência com os sentimentos alheios fenomenal. Talvez esse fenômeno negativo se dê por conta do tal estresse da vida moderna ou do individualismo capitalista atual, enfim, o motivo eu não sei, mas que existe, caros amigos, existe.
Certa vez um garoto, com “catarata” nos “olhos sentimentais”, “míope do coração”, se colocou na terrível situação de Hitler das relações pessoais. Ditador, Mussolini piorado, ele exigia, confrontava e oprimia os sentimentos que a si não cabiam.
Avassaladora foi a vez que, sem perceber, se apaixonou. Montou um exército de dor, uma maldição dilaceradora e auto-destrutiva. O pior - e isso eu afirmo sem medo - foi descobrir que para toda ação há uma reação. É, senhoras e senhores, ele foi derrotado, ele sofreu. Em um sábado gelado de inverno ele viu, tentou fechar os olhos, mas não lhe foi permitido – as forças da natureza realmente são honestas, ou melhor, o mundo realmente dá muitas voltas.
Permitam-me contar o fato ocorrido. O garoto, sentiu toda a miséria que havia causado, percebeu o quão egoísta havia sido e, além disso, se encontrou de mãos atadas. Um reflexo da dor foi colocado à sua frente. Simples assim, ele morreu.
Aqui jaz um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones, girava o mundo. Mas acabou, pois está morto do coração.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Palhaçadas em série.


"Gripe suína, em cima do telhado, deixa o povo dormir sossegado". Parece mentira, mas a capacidade que as pessoas têm de desesperar umas as outras é gigantesca. Hoje, pegando um ônibus semi-vazio - sim, estão deixando de usar o transporte público - um casal jovem, sequer podia se beijar; o problema? As máscaras que estavam usando. Exato, o desespero é tanto que as pessoas nem ouvem o que os especialistas dizem: "máscaras somente para quem já está com a gripe". Portanto, creio eu, que se eles estivessem, não estariam no ônibus, estariam? Mamãe, desde ontem, quer que eu não saia de casa. Trabalhar? Imagina, pra quê? É, pessoal, o mundo vai parar. O tal do nível três está aí. É o armagedom, ALELUIA!

Definitivamente não gosto de diminuir um problema destacando outro, mas nesse caso, faz-se necessário; não sei quem disse, porém, um amigo replicou, e eu farei o mesmo: "a gripe suína está aí há um mês, e todos já estão usando máscaras. A aids, mata milhares no mundo há mais de uma década, e até hoje tem gente que não usa camisinha".

A necessidade de uma novidade para se distrair - mesmo que seja uma novidade ruim - é tão grande, que o falecido Michael - que deus o tenha - já perdeu a graça. José Sarney, sacaneando geral no senado? Notícia antiga. Felipe Massa? Quem? Ah, aquele jogador de futebol? Por favor, quem quer alguma novidade que venha aqui trabalhar nessas seis edições de jornal que estamos fechando ou que vá assistir ao BBB. Melhor, compra um binóculo, e espiona o vizinho. Vai saber se ele não está infectado, né?

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Deficiência eficiente.


A mulher, no balcão sem graça do armarinho da esquina, olhou torto. O rapaz, entediado na fila do pão, riu. Porém, ele continuou andando. Juarez, desesperado, morrendo de cólicas renais, não resistiu e zombou. A família era estática, se tudo correr bem, ótimo! Se correr mal, paciência.
Felizmente, ele era cego, surdo, mudo e feliz.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Indigente.


Frio. Mais uma vez a velha jaqueta forrada saiu do guarda-roupa para desfilar nas ruas cinzentas da cidade "européia". A mente esvoaçante nem é mais um problema para ele, afinal, as preocupações se tornaram rotina. Guarda-chuva cinza, jaqueta velha e cinza e cidade cinza. O único problema para a tal combinação neutra era o sorriso amarelo estampado no rosto. Asfalto molhado, rostos desconhecidos, e ele filosofando sobre as possíveis coincidências da vida: "imagina se algum dia eu trabalhar com aquela senhora de vermelho?". O desconhecido, segundo ele, era uma aventura. A chuva fina e persistente insistia em molhar o par de tênis do despreparado andarilho urbano. Parou, amarrou o cadarço e, ao levantar os olhos, perdeu quase que completamente a possibilidade de esboçar qualquer tipo de reação, estava diante da imagem mais desconhecida, e, portanto, mais provida de aventura, que ele já havia visto. Na vitrine, da lojinha mais humilde, aquela espelhada e com marcas de dedos que sempre o incomodaram, estava parado o reflexo do ninguém. Ninguém conhecia, ninguém sequer desconfiava de sua existência, nem o próprio garoto refletido era capaz de descrever o que estava vendo. Não conseguiu encontrar a aventura.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Ciclo


Parafraseando e informando
Absorvendo um pouco desse todo incoerente
Dormindo o sono dos justos
e repudiando os inocentes
Vivendo...

Mudando o meu reflexo no espelho
Declamando versos íntimos
e cometendo o vandalismo nas minhas catedrais imensas
Vivendo...

Esgueirando-me pelas sombras
ou reluzindo no sol escaldante
Surtando sem motivos
e cometendo erros desmedidos
Vivendo...

Vivendo
Vou...
Morrendo
Morrendo vou.

Oração.


Peço – e para quem eu não sei – talvez para deus, que minhas ações, obtenham como na física, uma reação, mas que ela seja boa. Sim! Estou pedindo generosidade.Que os meus dedos possam tocar o amor, e que ele sorria. Que os meus olhos demonstrem paixão, e que ela, por sua vez, me beije. Que o meu corpo seja transmissor de felicidade para minha alma. E ainda peço, por último, que se estes pedidos forem realizados, que os meus dias não tenham sido apenas um sonho, que tenham sido minha vida. Espero não estar pedindo demais.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Seleção natural.

1998. Mais exatamente janeiro de 98, época pós-Natal. E eu, desprendendo-me totalmente da realidade, aos meus poucos 7 anos, brinco na sala de minha casa com o trenzinho que eu havia ganhado de presente. Sabe esses trenzinhos elétricos, cujos trilhos se encaixam formando uma circunferência? Então, era um desses. Foi quando, interrompendo esse momento tão inocente, minha irmã - a mais nova depois de mim - adentrou o ambiente e disse que minha mãe estava a me esperar na cozinha para uma conversa. Levantei-me e caminhei pelo corredor que levava até lá. Desci um lance de escadas, e logo pude avistar a mesa: nela se encontravam minha mãe e meus três irmãos (hoje, eu descrevo aquela cena como sendo uma reunião do conselho administrativo de uma empresa). Estavam todos sérios, e isso começou a me preocupar. Rapidamente pensei: “será que descobriram que eu tirei as pilhas do controle remoto da tv para colocar no meu trem, e agora se reuniram para me dar uma grandiosa bronca?”. Com a voz trêmula, minha mãe pediu que eu me sentasse. Sentei-me. Os seus olhos estavam umedecidos, e meus irmãos com um ar inquietante me olhavam. Minha mãe começou então a falar o quanto me amava, que pra ela nada era diferente. Meus irmãos diziam que não ligavam, que para eles nada mudaria, pelo contrário, tudo seria exatamente igual. Comecei a chorar, a situação me levou ao pranto, afinal, eu não sabia do que se tratava, contudo, sabia que era algo sério.
Revelaram-me então o motivo de tamanha comoção familiar: eu era adotado. Eu sou adotado! Disseram-me que minha mãe biológica havia me entregado à minha mãe adotiva por não ter meios suficientes para me criar, mas que ela me amava e, justamente por isso, me entregou à minha nova família. 

Foi explosivo, não uma explosão raivosa por revolta, mas sim uma explosão de sentimentos misturados, que até agora eu não consegui encontrar palavras para definir. Todos me abraçaram, e o assunto tornou-se algo tão comum, que realmente aconteceu o que me disseram, nada mudou. Muitos, quando eu conto essa história, me perguntam se eu não senti raiva por ter sido “abandonado”. Eu paro, penso um pouco, e lembro dos milhares de crianças e adolescentes nas casas de adoção que, todos os dias, quando chega uma família, ficam torcendo para serem adotados. Então respondo: Raiva? Não. Alegria! Eu sou um privilegiado, um abençoado. Eu estou aqui.