terça-feira, 16 de junho de 2009

Indigente.


Frio. Mais uma vez a velha jaqueta forrada saiu do guarda-roupa para desfilar nas ruas cinzentas da cidade "européia". A mente esvoaçante nem é mais um problema para ele, afinal, as preocupações se tornaram rotina. Guarda-chuva cinza, jaqueta velha e cinza e cidade cinza. O único problema para a tal combinação neutra era o sorriso amarelo estampado no rosto. Asfalto molhado, rostos desconhecidos, e ele filosofando sobre as possíveis coincidências da vida: "imagina se algum dia eu trabalhar com aquela senhora de vermelho?". O desconhecido, segundo ele, era uma aventura. A chuva fina e persistente insistia em molhar o par de tênis do despreparado andarilho urbano. Parou, amarrou o cadarço e, ao levantar os olhos, perdeu quase que completamente a possibilidade de esboçar qualquer tipo de reação, estava diante da imagem mais desconhecida, e, portanto, mais provida de aventura, que ele já havia visto. Na vitrine, da lojinha mais humilde, aquela espelhada e com marcas de dedos que sempre o incomodaram, estava parado o reflexo do ninguém. Ninguém conhecia, ninguém sequer desconfiava de sua existência, nem o próprio garoto refletido era capaz de descrever o que estava vendo. Não conseguiu encontrar a aventura.

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