segunda-feira, 1 de junho de 2009

Seleção natural.

1998. Mais exatamente janeiro de 98, época pós-Natal. E eu, desprendendo-me totalmente da realidade, aos meus poucos 7 anos, brinco na sala de minha casa com o trenzinho que eu havia ganhado de presente. Sabe esses trenzinhos elétricos, cujos trilhos se encaixam formando uma circunferência? Então, era um desses. Foi quando, interrompendo esse momento tão inocente, minha irmã - a mais nova depois de mim - adentrou o ambiente e disse que minha mãe estava a me esperar na cozinha para uma conversa. Levantei-me e caminhei pelo corredor que levava até lá. Desci um lance de escadas, e logo pude avistar a mesa: nela se encontravam minha mãe e meus três irmãos (hoje, eu descrevo aquela cena como sendo uma reunião do conselho administrativo de uma empresa). Estavam todos sérios, e isso começou a me preocupar. Rapidamente pensei: “será que descobriram que eu tirei as pilhas do controle remoto da tv para colocar no meu trem, e agora se reuniram para me dar uma grandiosa bronca?”. Com a voz trêmula, minha mãe pediu que eu me sentasse. Sentei-me. Os seus olhos estavam umedecidos, e meus irmãos com um ar inquietante me olhavam. Minha mãe começou então a falar o quanto me amava, que pra ela nada era diferente. Meus irmãos diziam que não ligavam, que para eles nada mudaria, pelo contrário, tudo seria exatamente igual. Comecei a chorar, a situação me levou ao pranto, afinal, eu não sabia do que se tratava, contudo, sabia que era algo sério.
Revelaram-me então o motivo de tamanha comoção familiar: eu era adotado. Eu sou adotado! Disseram-me que minha mãe biológica havia me entregado à minha mãe adotiva por não ter meios suficientes para me criar, mas que ela me amava e, justamente por isso, me entregou à minha nova família. 

Foi explosivo, não uma explosão raivosa por revolta, mas sim uma explosão de sentimentos misturados, que até agora eu não consegui encontrar palavras para definir. Todos me abraçaram, e o assunto tornou-se algo tão comum, que realmente aconteceu o que me disseram, nada mudou. Muitos, quando eu conto essa história, me perguntam se eu não senti raiva por ter sido “abandonado”. Eu paro, penso um pouco, e lembro dos milhares de crianças e adolescentes nas casas de adoção que, todos os dias, quando chega uma família, ficam torcendo para serem adotados. Então respondo: Raiva? Não. Alegria! Eu sou um privilegiado, um abençoado. Eu estou aqui.

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