terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Aqui jaz uma quimera.


A porta poderia ser aberta, os dois lances de escada e o humilde corredor poderiam ser vencidos, mas não, o corpo encontra-se estático, imóvel, parado.

Não! Ele ainda não morreu. O sujeito ao qual me refiro sente-se apenas impotente...incapaz, vencido. A velha história “perdi a batalha, mas não a guerra”, sentido algum faz. Guerra não houve, batalha muito menos, afinal, o embate em questão só seria possível com a existência de um adversário.

Gritar, talvez um berro desesperado pudesse...Não, aqui por essas terras todos são surdos.

Desvia o olhar, constrói barragens para segurar a cachoeira que verte dos olhos que deveriam ser cegos...desiste.

Talvez se fosse mais sincero. Talvez se parasse com o medo de ser inconveniente. Talvez se existisse de verdade. Talvez, talvez, talvez...nunca consegue sair dessa relativização.

Quando o inverno romper a linha que o separa da estação anterior, novamente as roupas pesadas sairão do baú empoeirado para desfilar sozinhas pelas ruas.

Ele gostaria de hibernar, deixar a letargia dominá-lo e, finalmente, sumir por alguns meses. Sonhava ser apenas um animalzinho endotérmico de pequeno porte.

Contudo, eu sempre o questiono: “Qual o motivo disso?”.

É preciso fazê-lo perceber que somente os cegos, como o que ele se tornou, seriam incapazes de perceber que o irresponsável coração vandalizado já não pode mais hibernar...morreu.


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Conformada


Mamãe já dizia: “Filhinha, os homens não prestam, são todos iguais”. Porém, eu não acreditava, sabia que existia, em algum lugar, um príncipe, que logo viria em busca de sua amada princesa, eu, no caso. E ele veio. Ah, Heitor era o seu nome, romântico, inteligente e educado. Começamos a namorar, e o amei. Após seis meses de namoro, no ápice da minha paixão, descobri que o meu amado, havia me traído. O odiei.

Hoje, completo quinze anos de casada, tenho um belo filho e uma vida estável. Meu marido já me traiu duas vezes, o tempo me ensinou a esquecer. Contudo, continuo descordando de mamãe, os homens não são iguais, veja o meu exemplo, conheci dois homens em minha vida, um chamado Heitor, e o outro Max. Viu só mamãe, existe uma diferença: o nome.


Recordações.


O ranger da porta antes inexistente, os móveis cobertos com lençóis brancos, havia esquecido do piano – nunca mais ouvi uma nota sequer.

Pó, os rostos valiosos esquecidos dentro dos porta-retratos de madeira. Aos poucos reconheço alguns caminhos por onde passei, mas sei que alguns ainda fugirão de mim, afinal, sou uma velha novidade aqui.

A chave, quase não conseguiu abrir a porta...ferrugem.

Quando trancamos um pedaço do que um dia fomos nós, temos de destrancar um pedaço do que seremos.

Caso contrário, seremos esquecidos, e o pior, por nós mesmos.

- Acho que é chegada a hora de abrir as janelas e deixar o coração bater novamente.