A porta poderia ser aberta, os dois lances de escada e o humilde corredor poderiam ser vencidos, mas não, o corpo encontra-se estático, imóvel, parado.
Não! Ele ainda não morreu. O sujeito ao qual me refiro sente-se apenas impotente...incapaz, vencido. A velha história “perdi a batalha, mas não a guerra”, sentido algum faz. Guerra não houve, batalha muito menos, afinal, o embate em questão só seria possível com a existência de um adversário.
Gritar, talvez um berro desesperado pudesse...Não, aqui por essas terras todos são surdos.
Desvia o olhar, constrói barragens para segurar a cachoeira que verte dos olhos que deveriam ser cegos...desiste.
Talvez se fosse mais sincero. Talvez se parasse com o medo de ser inconveniente. Talvez se existisse de verdade. Talvez, talvez, talvez...nunca consegue sair dessa relativização.
Quando o inverno romper a linha que o separa da estação anterior, novamente as roupas pesadas sairão do baú empoeirado para desfilar sozinhas pelas ruas.
Ele gostaria de hibernar, deixar a letargia dominá-lo e, finalmente, sumir por alguns meses. Sonhava ser apenas um animalzinho endotérmico de pequeno porte.
Contudo, eu sempre o questiono: “Qual o motivo disso?”.
É preciso fazê-lo perceber que somente os cegos, como o que ele se tornou, seriam incapazes de perceber que o irresponsável coração vandalizado já não pode mais hibernar...morreu.