segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Amnésia desejada.


Faz frio. Para ele, o clima gélido já não era mais um problema, pelo contrário, conseguia dar sentido a tudo o que sempre sentira. Seu processo semiótico, como o de qualquer outra pessoa, era singular – algo relacionado aos signos e significações da semiótica o fazia relacionar frio com solidão. No inverno, portanto, tudo era mais aceitável. Ultimamente, porém, algo o andava inquietando. Como era de costume, o rapazote cheio de vida encenada, pensava demais sobre tudo o que era permitido se pensar. Foi quando, em conversa passageira de cigarros acesos, percebeu que ter conhecimento suficiente sobre coisas, e poder pensar sobre elas, era cruel.

No dia seguinte, sem desprezar o pensamento que havia tido, resolveu pensar sobre a crueldade existente na capacidade de raciocínio. Chegou à conclusão de que não era crueldade todos terem permissão para refletir, mas que era de maldade ímpar deixar que cada um pudesse se colocar como objeto para se pensar. Para ele, isso era uma condição dolorosa. Poder se analisar, se questionar, se comparar e se perceber era tudo o que ele não queria. “Que eu saia de meus pensamentos!”, era o que desejava com mais freqüência. Queria ser Macabéa, mas sem o final digno de estrela que ela teve. Queria ser anônimo, para sempre, para si. “Auto-ignorância deve ser uma dádiva”, afirma o descontente.

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